Na última década, as alterações climáticas têm estado cada vez mais presentes nas nossas conversas quotidianas e mais ações têm sido tomadas por diferentes grupos para mudar o nosso futuro. Mas historicamente (e talvez deliberadamente), o movimento ambientalista excluiu a diversidade. Para preceber melhor este tema, decidi conversar com a Patricia Wilson sobre a interseccionalidade do racismo e das questões ambientais.
"Acho que desde que a diversidade se tornou um tema importante nos últimos anos, tenho visto mais empresas e organizações a tentar ter mais diversidade sem fazer o trabalho interno para realmente incluir essas pessoas. O problema é que, ao fazer as coisas assim, as pessoas são usadas para mostrar que há diversidade e não para mudar realmente as coisas", analisa Patricia Wilson, fundadora do Diverse Nature Collective criado em Peterborough, no Canadá.
Quando ela criou o coletivo em 2021, ela trabalhava para outra organização e estava cada vez “mais frustrada com a falta de diversidade e as barreiras que as pessoas racializadas enfrentavam nas organizações ambientais”.
“Eu perguntava-me por que as coisas eram assim e o que eu poderia fazer para mudar isto?” ela conta-me. Patricia também questionava as pessoas ao seu redor, mas ninguém parecia ter a resposta. “Muitas vezes, eles respondiam-me que as pessoas racializadas não gostam da natureza ou davam outras desculpas estereótipicas.”
Além dessa falta de respostas, a pandemia, o movimento Black lives matter nos Estados-Unidos e os protestos dos indígenas contra os oleodutos no Canadá aumentaram a sua frustração e Patricia acabou por criar uma organização que estaria na interseção dos movimentos antirracistas e da ação climática.
O que começou como um site e páginas nas redes sociais, para destacar pessoas de diversas origens que fizeram ou faziam algo pela natureza, rapidamente explodiu. Agora, Patricia Wilson organiza regularmente eventos com outros grupos e também faz workshops em instituições acadêmicas, organizações sem fins lucrativos e empresas. Nesses workshops, ela concentra-se em temas pratícos como métodos para criar espaços anti-racistas no setor ambiental.
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Com o seu coletivo, Patricia também criou uma rede para as pessoas BIPOC (pretos, indígenas e pessoas de cor) encontrarem trabalho ou onde fazer voluntariado para organizações ambientais. Este aspecto do seu trabalho é muito importante para ela porque a falta de diversidade na ação climática leva a decisões sem perspectiva, argumenta Patricia. “Historicamente, o movimento ambiental tem sido feito através de lentes ocidentais. Ou seja, as pessoas que tomam as decisões mais importantes nas organizações ecológicas são principalmente brancas e, mesmo a nível do pessoal, os cargos de liderança são em maioria brancos. Essa falta de diversidade não é sustentável a longo prazo”, ela acrescenta.
“Um amigo contou-me uma vez que os ensinamentos indígenas dizem que o ser humano tem que trabalhar em reciprocidade com a terra: é um dar e receber. Esta visão é totalemente oposta a visão ocidental que geralmente tenta remover os humanos da natureza para conservá-la porque os humanos não são bons para a natureza. Mas, na verdade, existem alguns benefícios das interações humanas com a natureza. Por exemplo, as pradarias de capim alto precisam de fogo para ajudá-las a crescer e prosperar”, explica Patricia.
Em 2019, um relatório da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) das Nações Unidas concluiu que, de fato, as comunidades indígenas e locais contribuem de muitas maneiras significativas para a biodiversidade. Embora milhões de espécies estejam em extinção, esse declínio acontece a um ritmo mais lento nas terras dos povos indígenas. Vários estudos também mostram que indivíduos racializados são mais afetados pelas mudanças climáticas nos Estados-Unidos e no Canadá. Isso mostra que a perspectiva das pessoas BIPOC não é apenas útil porque elas têm outras soluções, mas também necessária porque elas têm direito de criar as políticas que as afetam diretamente.
No final de contas, as questões sociais, de saúde ou ambientais estam interligadas. Para Patricia, a interseccionalidade permete de olhar para os problemas a partir de diferentes ângulos e ver como se sobrepõem. Patricia recomenda o site intersectional environmentalist que tem muito conteúdo educacional e a Kimerblé Crenshaw que tem TedTalks sobre interseccionalidade como um conceito.
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